Pedagogia Espírita: de Sócrates, Pestalozzi, aos nossos dias, conduzida por Jesus

A pedagogia espírita, como proposta educativa integral, não surge ao acaso. É desdobramento de uma longa e iluminada tradição religiosa, filosófica e pedagógica, guiada pela espiritualidade superior sob a orientação de Jesus, cuja pedagogia amorosa, libertadora e transformadora marcou a Humanidade.
Desde Sócrates (470 a.C. - 399 a.C), que com sua maiêutica (técnica filosófica que propõe questionamentos para dar luz a ideias) buscava extrair a verdade interior de cada ser, delineia-se uma linha que valoriza autonomia, consciência e liberdade como fundamentos da educação. Essa linha encontra expressão mais elevada em Jesus, educador das almas, que ensinava com exemplos, parábolas e profundo amor, sempre respeitando o tempo e o espaço de cada um.
No plano terreno, essa pedagogia divina foi sendo intuída e desenvolvida ao longo dos séculos. Jan Amos Comenius (1592–1670) propôs educação universal, centrada na dignidade do ser humano. Rousseau (1712–1778) defendeu a bondade natural da criança e a importância de respeitar sua individualidade. Pestalozzi (1746–1827), inspirado por ambos, uniu razão e afeto, propondo uma educação que alcançasse mente, coração e mãos. E com ele estudou Hippolyte Rivail, nosso Allan Kardec.
Ele herdou essa linhagem pedagógica e a integrou ao Espiritismo, transformando-o numa verdadeira religião filosófica educativa. A existência humana, segundo a doutrina espírita, é uma grande escola do espírito. Educar-se é evoluir, cooperando com o próximo e conectado com o plano divino. Introduz novo olhar sobre o ser humano e a criança: somos espíritos reencarnados, herdeiros de nós mesmos, com potencialidades únicas a desenvolver – não uma tela em branco.
A partir de então, construiu-se uma proposta pedagógica espírita completa, tarefa que caberia, sobretudo, aos espíritas brasileiros. O primeiro grande marco foi a fundação do Colégio Allan Kardec, por Eurípedes Barsanulfo, em 1907, em Sacramento (MG). Educador inspirado, unia ciência, ética e espiritualidade num ambiente de liberdade, afeto e compromisso com a formação do espírito. Contemporânea dele, Anália Franco fundava escolas em São Paulo com sensibilidade social, pedagogia ativa e sólidos valores espirituais.
Outro marco foi a criação do termo "pedagogia espírita" por José Herculano Pires, na década de 1970, por meio da revista “Educação Espírita” e do livro homônimo. Herculano via a educação como ponte entre o mundo espiritual e o progresso humano, conferindo à pedagogia espírita base teórica coerente com os princípios do Espiritismo.
Outros nomes também contribuíram, como Tomás Novelino, com o Educandário Pestalozzi, em Franca (SP), unindo educação e caridade, e Ney Lobo, com a Cidade-Mirim no Instituto Lins de Vasconcellos, em Curitiba. Embora pouco reconhecidos na época (e hoje), deixaram sementes valiosas.
Em 1997, inicia-se novo ciclo com Dora Incontri, que retoma e aprofunda a proposta teórico-prática da pedagogia espírita em livros, pesquisas e projetos, especialmente por meio da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita. Seu livro “A Educação segundo o Espiritismo” e sua tese de doutorado na USP, “A Pedagogia Espírita...”, consolidam as bases contemporâneas da proposta.
Temos, assim, uma linha sequencial e interligada que se inicia há milênios sob a supervisão maior de Jesus e atravessa a história por meio de espíritos missionários. É uma pedagogia que não visa apenas formar cidadãos, mas transformar almas.
Em tempos desafiadores, é urgente resgatar essa proposta centrada no amor, na liberdade e na transcendência – pois, como disse o Mestre, “ninguém pode ver o Reino de Deus se não nascer de novo”.
Silvia Torre é da equipe Paulo de Tarso Sem Fronteiras e voluntária do NEEFA Sorocaba-SP
Para saber mais
Leia a primeira parte deste artigo na edição 532 de O Trevo, disponível em:
https://www.alianca.org.br/site/trevo/532/art4.html