Jesus, qual a virtude mais difícil?

Jesus e os discípulos à beira do lago

Jesus se afastava... iria mais uma vez descansar, acalmar sua alma, se conectar com o divino em oração. As tribulações e necessidades do mundo o demandavam intensamente e, por vezes, precisava se ligar mais intensamente com o Pai para refazimento, entendimento e compreensão.

Nos trouxe o Sermão do Monte, o caminho do amor, a simplicidade da vida e a esperança na alma eterna.

Perto do lago, sentia a brisa suave do entardecer, o aroma da primavera, a presença de Deus em tudo que existe. Emocionava-se por ter participado dessa criação. Sentia uma enorme integração com os desígnios do Pai, suas leis divinas faziam parte tranquila do seu interior, e o amor expandia-se num sentimento de integração. Agradecia.

Nesse cenário aproximam-se Tadeu, Tiago, João e Bartolomeu, provavelmente atraídos mais uma vez pelo amor natural de Jesus. Afinal, nele já vivia, se movia e existia há muito (Atos 17:28).

Como nós, simples humanos, os seguidores mais próximos de Jesus buscavam entender a vida e descobrir o caminho. Aproveitavam os momentos juntos para esclarecer detalhes desta vida, para receber um pouco da bondade, sabedoria e amor que Jesus distribuía naturalmente.

Dentre muitos testemunhos, o dessa tarde em especial ficou registrado nos arquivos do tempo. Não pelo “milagre” ou feito extraordinário, mas pela simplicidade da explanação e entendimento da vida.

João, seu apóstolo do amor, jovem ainda, se aproxima e, humildemente, pergunta: “Senhor, que é mais difícil? Qual a aquisição mais difícil?” Essa delicada passagem nos é graciosamente lembrada pela caridade de Chico Xavier, Waldo Vieira e do espírito Hilário Silva no livro “A Vida Escreve” (capítulo – “O Mais Difícil”).

Convite à lembrança das virtudes

Na nossa vontade de melhorar, tentamos lembrar atitudes, reações e pensamentos geralmente que destoam das leis divinas, para anotar e trabalhá-los pacientemente. Geralmente, nos saltam à mente os erros, os defeitos e os desafios. Esquecemos, ou não damos atenção, aos avanços, às virtudes e ao amor que de certa forma já possuímos.

Virtudes, como pequenas atitudes positivas, até as mais nobres demonstrações de amor, podem ser escaladas. Elas trazem sentido à principal mensagem que O Evangelho Segundo o Espiritismo nos explica: Fora da caridade não há salvação.

Desta forma, podemos desenvolver algumas virtudes por meio do trabalho interno, nos empenhando com vontade. É um desafio desenvolver virtudes no dia a dia, seja pela renúncia das nossas visões e princípios, por vezes incompletos, carregando essas cruzes de não nos impor, de aceitar a diferença dos outros, de aceitar nossos próprios erros, de aceitar que existe algo maior a nos guiar a todos.

Elencamos algumas virtudes, das mais fáceis às mais difíceis, principalmente para aqueles que começam a vislumbrar a segunda ordem dos espíritos (a dos bons espíritos), a partir de informações dos capítulos IX e XIII de O Evangelho Segundo o Espiritismo, da Revista Espírita de fevereiro de 1858 e de O Livro dos Espíritos (livro segundo, capítulo I), que são:

Quadro das virtudes: da mais fácil à mais difícil

A difícil virtude da Paciência

Posto isto, voltamos então àquela tarde agradável ao redor do lago de Genesaré, onde se podiam ouvir pardais, pombas e andorinhas, o vento e o mar. E a voz divina a entoar mais um ensinamento que, de tão simples, nos parece por vezes impossível de atender, onde Jesus após breve pausa esclarece:

“O mais difícil é ajudar em silêncio, amar sem criticar, dar sem pedir, entender sem reclamar... A aquisição mais difícil para nós todos chama-se paciência.”

Sim, a paciência é a virtude mais difícil. Isso porque demanda nossa vontade no refrego de nossos desejos. E a vontade dirige a energia mental. Os desejos, a inteligência, a imaginação e a memória, sem a vontade, podem nos jogar em séculos de sofrimentos. Somente a vontade pode nos controlar e ela tem que ser suficientemente forte para que possa sustentar a harmonia do espírito (“Pensamento e Vida” – capítulo 2).

É verdade que a doação material ajuda a muitos. Mas não é a única ajuda possível e, na verdade, conforme nos mostra O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo IX, é das mais fáceis virtudes a se praticar.

Um sorriso ou um olhar, muitas vezes, poderá ser a única situação agradável que uma pessoa desesperada ou esquecida da sociedade recebe num dia qualquer. Um abraço, uma conversa, um atendimento ou mesmo uma aula nos colocam frente a frente com o próximo, dando atenção e carinho.

Agora, cuidar de alguém fragilizado, apenas por vontade, sem receber ou esperar alguma remuneração de qualquer espécie, seja por doença, por idade, por condição psicológica, eleva-nos a outro nível de caridade. Saber perdoar e praticar a paciência nos coloca num trabalho interno diretamente ligado a nossa alma, o que nos traz a caridade mais difícil de se praticar para com o próximo.

A paciência, quando exercitada, acaba por aprender a utilizar de maneira mais ampla uma das principais ferramentas divinas de cura da alma: o tempo. Com o tempo e a prática da caridade podemos nos transformar interiormente.

Essa transformação, através da prática de todos esses níveis de caridade ao longo do tempo, atua na nossa alma, diretamente no nosso perispírito, nos transformando de uma forma muito interessante. Isso nos impulsiona para cima, como determina a Lei de Evolução.

Assim, essa transformação não é apenas moral, mas tem uma explicação física também. Mas essa é a parte 2 desta história, que será publicada na próxima edição de O Trevo, na qual vamos discorrer sobre por que fora da caridade não há salvação.

Mauro Iwanow é da equipe de O Trevo

Navegue:

Compartilhe: