Perdoar é libertar dois corações

Perdoar aos inimigos é pedir perdão para si próprio; perdoar aos amigos é dar-lhes uma prova de amizade; perdoar as ofensas é mostrar-se melhor do que era. ¹

 

Hoje apresentamos uma história sobre como perdoar nos liberta da mágoa, dos ressentimentos… Ela traz também uma reflexão sobre a relação entre melhores amigos, irmãos, primos, diante de pequenos conflitos que despertam sentimentos. São situações que, às vezes, passam desapercebidas pelos pais ou responsáveis, mas que podem influenciar os comportamentos de crianças e jovens.

 

Perdoar é libertar dois corações

Assim que o carro parou, Alice saiu correndo ao encontro de sua avó Maria e deu-lhe um grande abraço!

Todo ano ela e sua irmã passavam as férias escolares na roça, com a avó. As “irmãs inseparáveis”, assim eram conhecidas Alice e Ana, por toda a família. Unidas nas brincadeiras e na bagunça, dividiam tudo: os livros, o quarto e às vezes até as roupas.

Ana só chegaria dali a uma semana com seu pai. Estava estudando, ficou de recuperação em matemática e ia fazer a prova. Alice não quis esperar a irmã, elas haviam brigado.

– Alice, meu bem, vamos entrar! – disse vovó Maria – Fiz aquele bolo de milho de que você tanto gosta.

Alice sentiu uma tristeza em seu coração. Será que aqueles dias seriam divertidos sem Ana? Estava muito brava com ela! Onde já se viu tirar nota baixa, por que não estudou?

Quando Ana contou que ficou de recuperação, Alice brigou, xingou. As palavras chatearam Ana. Ela ficou tão triste que não quis mais falar com a irmã. Saiu chorando do quarto, com o boletim nas mãos.

As duas passaram a se evitar. Alice queria ajudar a irmã, às vezes queria conversar, mas quando via Ana, na mesma hora, pensava:

– Quem mandou não estudar? É isso que dá, agora vai ter que aprender. – Seu orgulho não a deixava pensar direito.

Os dias foram passando. Toda vez que Alice ia ajudar a avó, pensava em Ana. Se ia pegar os ovos, lembrava de sua irmã correndo atrás das galinhas. Quando ia molhar a horta, lembrava que Ana colhia e enchia a boca de tomatinhos cereja. E como ela gostava de beber o leite, na hora, que era tirado da vaca!

Vovó Maria notou que a neta estava muito calada e um pouco triste. Preparou um delicioso café com leite e bolo de milho, o preferido das meninas, e chamou Alice.

Alice, ao ver a mesa, não aguentou e pôs-se a chorar.

– O que foi, querida? Aconteceu alguma coisa?

– Ah, vovó! Como eu sou má… – desabafou ela – Sinto tanta falta da Ana, mas não tenho coragem de ligar para ela. Fui muito injusta com ela, vovó, E agora, o que faço?

– Calma, criança, me conte o que aconteceu.

Sua vó a abraçou e, em seus braços, Alice chorou. Assim que se acalmou, contou sobre o quanto ficou com raiva da irmã por ela ficar de recuperação, ter que ficar em casa e perder uma semana das férias.

– Minha menina, sua irmã também deve estar triste. Lembra quando ela ficou doente e não pode ir à escola por uma semana?

– Ai, vovó, lembro sim! Ela perdeu as aulas de matemática. Senti falta dela nesses dias, nossa! Como fui boba em brigar daquele jeito e dizer tantas coisas.

– Querida, vi vocês crescerem e sei o quanto vocês se amam. Converse com ela, tenho certeza de que Ana irá entender e te perdoar.

– A senhora acha? Estou tão arrependida! Amanhã é o dia da prova, tenho vergonha de falar com ela.

– Sabe, Alice, a vergonha vem do orgulho. Se você reconhece que errou com sua irmã, então, perdoe-se. Jesus nos ensina que o perdão é o melhor presente que a alma pode receber. Todos nós erramos. Tenho certeza de que sua irmã também deve estar sentido sua falta.

– Muito obrigada, vovó, vou agora mesmo ligar para ela!

Alice pegou o celular e assim que ouviu voz de sua irmã, falou:

– Ana, você pode me perdoar?

– Alice, você me perdoa, também, por não ter estudado?

– Ana, me desculpe, agora entendo, me perdoe por tudo! Amanhã cedo é sua prova, tudo vai dar certo! Você é uma ótima aluna, vou esperar você à tarde.

Ao desligar o celular, Alice percebeu que seu coração estava mais leve. Pensou nas palavras de sua avó: “Perdoar é libertar dois corações: o seu e o do outro”.

No dia seguinte, ao ouvir o carro, Alice saiu em disparada e num abraço silencioso, cheio de saudade e alívio, as irmãs se reencontraram.

A partir de então as verdadeiras férias estavam começando. Vó Maria se emocionou ao ver quanto amor existia naquele abraço e agradeceu a Deus.

 

Silvia Maria dos Santos Amâncio Ribeiro

Centro Espírita Luz do Caminho – CELUCA

Regional Vale do Paraíba

 

Referência:

1 Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo X, item 15.

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