Andragogia e metodologias ativas na EAE: orientações para a prática
As duas últimas edições do Trevo abordaram os novos textos das 14 primeiras aulas da EAE, a sala de aula invertida e técnicas atualizadas de facilitação. Após essas publicações, facilitadores e dirigentes podem estar se perguntando: como aplicar esse modelo no cotidiano da EAE? A resposta começa pela compreensão do perfil dos alunos que ingressam na iniciação.
As turmas são compostas por pessoas com diferentes níveis de escolaridade. Muitas não têm o hábito de estudar ou estão afastadas da escola há anos. Apesar das diferenças, todas têm algo em comum: são adultas, e adultos aprendem de forma distinta das crianças.
É aí que entra a andragogia, abordagem voltada especificamente para a educação de adultos. O termo foi criado em 1833 pelo alemão Alexander Kapp, inspirado no método utilizado por Platão. Nessa perspectiva, o educador propõe o que deve ser aprendido, mas é o aprendiz quem define como aprender, com base em sua experiência e autonomia. Carl Rogers, com sua abordagem centrada na pessoa, difundiu e reforçou essa concepção ao afirmar que ninguém ensina ninguém — apenas facilitamos o aprendizado do outro. Diferente da pedagogia, voltada a crianças e adolescentes, em que o educador conduz tanto o conteúdo quanto os métodos, a andragogia valoriza a participação ativa de quem aprende.
Em consonância com a nova proposta da EAE, aquele que antes transmissor de conteúdos, torna-se facilitador da transformação do ser. Isso exige que a prática seja centrada no aprendiz e baseada em vivências significativas. Malcolm Knowles, teórico da andragogia, aponta que adultos são mais motivados a aprender quando os conhecimentos têm aplicação real, relevância pessoal e respeitam sua autonomia. O aprendizado ocorre por meio da transformação das próprias experiências. Por isso, uma pergunta essencial na facilitação de adultos é: que vivência esta aula pode despertar?
Para que essa abordagem se consolide na EAE, o papel dos dirigentes é fundamental. Recomenda-se que orientem os facilitadores com antecedência, compartilhando informações sobre o perfil das turmas, hábitos de estudo, faixa etária e etapa da formação. Isso contribui diretamente para a preparação das aulas.
Além disso, no tempo destinado ao dirigente, é importante incentivar o uso gradual e intencional de metodologias ativas. Para turmas iniciantes, recomenda-se começar com estímulos simples — como pedir aos alunos que respondam, antes da aula, uma ou duas perguntas iniciáticas ou assistam a um vídeo curto. O objetivo é, pouco a pouco, desenvolver a autonomia e a autorregulação necessárias a esse tipo de metodologia.
E por falar em preparar as aulas da EAE, a principal recomendação é trazer a vivência do aluno para o centro do processo. Na prática, sugerimos ao facilitador que comece pelo quadro “Vivência”, localizado ao final da apostila. Construa o fio lógico da aula (sua espinha dorsal) iniciando pelas “Questões iniciáticas” e relacionando-as às experiências dos aprendizes. Em seguida, observe os “Principais pontos” indicados no quadro, que orientam o foco do conteúdo. O restante do material serve como apoio à iniciação espírita, mas não deve ocupar o centro da facilitação.
Na sequência, organize os recursos que serão utilizados e escolha a metodologia ativa mais adequada à turma. Para iniciantes, o ideal é adotar estratégias simples e acessíveis, que incentivem a participação sem exigir autonomia plena. Roda de conversa, tempestade de ideias, escuta orientada, relatos de vida, leitura compartilhada, perguntas reflexivas em duplas ou trios, uso de imagens ou trechos de vídeo seguidos de diálogo são metodologias eficazes. Essas práticas favorecem o vínculo, despertam a escuta ativa e ajudam o aprendiz a se reconhecer no processo, criando pontes entre o conteúdo e sua realidade.
Para turmas mais experientes, podem ser utilizadas metodologias que exigem maior protagonismo e autorregulação, como a sala de aula invertida, estudos de caso, dramatizações, projetos colaborativos e seminários dialogados. Nessas abordagens, o conteúdo pode ser explorado previamente ou distribuído entre os participantes, favorecendo a construção coletiva do saber e o fortalecimento da autonomia espiritual e intelectual. O mais importante é que a metodologia esteja a serviço da vivência e da transformação, e não do simples acúmulo de informações.
Seguindo a teoria do especialista David Kolb, facilitar a aprendizagem de adultos é conduzir o aluno da dimensão do sentir-pensar — voltada à compreensão da realidade — para o observar-fazer, que desenvolve a capacidade de transformá-la. Nesse modelo, o conteúdo deixa de ser um fim em si e passa a ser uma ferramenta para a transformação do ser.
O mais importante é que a metodologia esteja sempre a serviço da vivência e da transformação do ser, respeitando o tempo, a trajetória e a autonomia de cada aprendiz. Ao preparar a aula a partir das experiências dos participantes, facilitadores ampliam o sentido da iniciação e criam pontes entre o conteúdo e a realidade vivida. Assim, o conhecimento deixa de ser um fim em si e passa a ser ferramenta para o despertar interior, em consonância com a proposta formativa da EAE.
Lilian Rosa – Colaboradora do Projeto EAE/FDJ (Reg Ribeirão Preto)