Setembro Amarelo e a Vivência Espírita

Setembro Amarelo e a Vivência Espírita

O Sofrimento Emocional e o Mundo Atual

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No Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção do suicídio e à valorização da vida, somos convidados a refletir sobre as dores emocionais que afligem tantas pessoas. Vivemos tempos desafiadores: mudanças sociais rápidas, excesso de exposição, cobranças constantes. Nesse cenário, muitos jovens e adultos enfrentam angústias profundas e sentimentos de inadequação.

O professor Dalmo Duque dos Santos observa que as pressões do mundo moderno podem levar a respostas extremas, evidenciando a urgência de compreensão e acolhimento:

“Crianças e adolescentes constroem suas existências a partir do comportamento dos adultos. Vivemos uma época em que todas as questões e conflitos humanos, antes escondidos, vieram à tona. A era dos segredos, das dissimulações e das subjetividades foi substituída pela era da transparência. Não é mais possível esconder nada: tudo é público e notório. Nossas ações são expostas a céu aberto e observadas atentamente nas redes sociais.

É uma nova realidade, na qual é necessário ser autêntico para sobreviver. Máscaras e explicações racionais já não bastam, pois logo são desmascaradas. Some-se a isso uma sociedade altamente tecnológica e competitiva, que reduziu nossa estabilidade e nossas zonas de conforto. Tudo é solto e efêmero: empregos, relações sociais, afetivas e, sobretudo, certezas.

Ansiedade, pânico, depressão e, finalmente, o suicídio têm sido as respostas de quem não consegue se adaptar a esse mundo externo, que empurra para as tormentas íntimas do mundo interno. É preciso acertar os relógios atrasados e encontrar um Norte para essa bússola confusa e desorientada.”
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Essas palavras revelam que o sofrimento emocional, tantas vezes invisível, nasce também de transformações sociais intensas. A falta de perspectiva e a sensação de não pertencer podem gerar desespero. Frente a isso, é fundamental buscar um Norte – um sentido para a vida – mesmo em meio à dor.

O Setembro Amarelo nos recorda a importância de falar sobre os sentimentos e buscar ajuda. Para o Espiritismo, cada ser é amparado por laços de amor, visíveis e invisíveis, e a dor, por mais profunda, pode ser suavizada pela compreensão e pela esperança.

Compreensão, Empatia e Acolhimento Espiritual

A vivência espírita nos ensina que o acolhimento ao sofrimento vai além de fórmulas prontas ou dogmas. Trata-se de empatia verdadeira: estar presente com o outro sem julgamentos.

Ao narrar a fundação do CVV (Centro de Valorização da Vida), o professor Dalmo ressalta que a chave para a prevenção do suicídio é uma atitude humana e fraterna, livre de sectarismos.

Ele recorda o exemplo do pastor anglicano Chad Varah, fundador dos Samaritanos de Londres em 1953 — organização pioneira no apoio emocional a pessoas em crise —, que inspirou o movimento no Brasil:

“O segredo da longa e profícua amizade é que Chad aprendeu, pela experiência, que o trabalho de prevenção do suicídio não deveria ter bandeira religiosa. Pessoas em risco não se preocupam tanto com crenças, mas com as dores mais íntimas que as atormentam. A consciência fala mais alto que a filosofia.

Ao voltar ao Brasil, o engenheiro Jacques Conchon foi estudar psicologia: queria compreender melhor o ser humano. Mais tarde aprendeu com Carl Rogers, com Fernando Pessoa e com a própria experiência que ‘entender’ é discordar, enquanto o melhor é ‘compreender’, ‘estar com’, falar a linguagem dos sentimentos e das emoções, deixando de lado, por um instante, as questões intelectuais e sociais.

Para entender, é preciso ser profissional. Para compreender, basta ser voluntário. Esse era o segredo: disponibilidade, voluntariado, um ‘ócio criativo’, já vislumbrado há quase meio século.”
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Esse olhar profundamente humano reforça que, para ajudar alguém em sofrimento, não precisamos ter todas as respostas técnicas. Muitas vezes, o essencial é oferecer escuta amorosa e presença sincera. No entendimento espírita, todo gesto de compreensão é inspirado pelos bons Espíritos, que nos intuem a acolher e amar.

Uma Mensagem da Espiritualidade: Esperança e Responsabilidade

A literatura espírita nos oferece mensagens que falam direto ao coração. Em um de seus textos mais sensíveis, Dalmo compartilha a mensagem de um amigo espiritual dirigida a alguém que pensa em desistir da vida.

É uma voz amorosa, que reconhece as dificuldades sem minimizar a dor, mas lembra das responsabilidades assumidas antes de nascer e do amparo constante. Uma mensagem ao mesmo tempo afetuosa e firme, que mostra como a vida, mesmo difícil, é uma oportunidade valiosa de aprendizado:

“Caro amigo,
Penso em sua situação de pressões externas e conflitos íntimos, na qual deve se sentir acuado e sem perspectivas. Nessas horas, o desespero de resolver tudo se acentua e, quando você se esgota de tanto pensar, vem o desânimo. Sente-se fracassado, impotente, incapaz.
Mas ainda há responsabilidades diante de sua família.
Há compromissos afetivos que pedem cuidado.
Há a necessidade de recuperar sua saúde física e emocional.
Há as tarefas espirituais aceitas antes de reencarnar.
Há as oportunidades de aprendizado que a vida lhe confiou.
Como vê, sua vida de responsabilidades não está no fim, mas no começo. É hora de planejar, organizar e reconstruir. Não há como fugir das provas, abandonando bens e deveres.
Ainda assim, você não está só. Amigos, familiares e benfeitores espirituais permanecem ao seu lado. Há um limite em que só você pode escolher, mas a decisão nunca será solitária: Deus e os que o amam seguem com você.”

Essa carta comovente mostra que, apesar da dor, “sua vida não está no fim, e sim no começo”. Enquanto há vida, há chance de recomeçar.

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Origem e História do CVV

  • O primeiro plantão da entidade ocorreu numa sala cedida pela Federação Espírita do Estado de São Paulo em 1962, com a voluntária Misayo Ishioca, então aluna da 7ª Turma da Escola de Aprendizes do Evangelho.
  • O CVV foi uma iniciativa de Edgard Armond, que leu uma reportagem sobre os Samaritanos de Londres e encaminhou o recorte ao jovem Jacques Conchon com um bilhete: “Para quem está disposto a servir, eis uma boa oportunidade.”
  • Mais tarde, os jovens fundadores souberam, por Chico Xavier e Yvonne Pereira, que o CVV era um trabalho organizado no mundo espiritual por uma agremiação denominada Fraternidade Esperança, dirigida por Francisca Júlia e Batista Cepelos, poetas parnasianos que haviam desencarnado por suicídio. Ambos relataram essa experiência em poemas psicografados por Chico.
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    O CVV atende em todo o Brasil pelo número 188.

A Luz da Esperança e da Vida

A jornada de prevenção ao suicídio, iluminada pela doutrina espírita, nos mostra que sempre existe luz no fim do túnel. Por mais intensa que seja a luta interior, ninguém está sozinho – há amigos, familiares, voluntários dedicados (como os do CVV) e uma espiritualidade amorosa pronta a amparar.

Que este Setembro Amarelo nos ajude a valorizar a vida como oportunidade bendita de crescimento. Se você atravessa um momento difícil, converse, busque ajuda médica, psicológica ou espiritual. E se você está bem, seja aquela presença amiga que acolhe.

O amor e a compreensão são capazes de transformar dores profundas em caminhos de cura. Onde há apoio e fé, sempre haverá uma nova manhã anunciando vida e renovação.

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✍️ Equipe de Comunicação da Aliança Espírita Evangélica
Com textos cedidos gentilmente pelo professor Dalmo Duque dos Santos

Sobre o autor

Dalmo Duque dos Santos é paulista, natural de Porto Tibiriçá (atual Presidente Epitácio), de família de raízes espíritas. Desde cedo esteve envolvido em grupos de mocidade e dedicou-se ao serviço em centros espíritas do litoral sul paulista.
É professor da rede pública estadual e docente de ciências humanas em cursos superiores na Baixada Santista. Iniciou os estudos na Universidade Católica de Santos em 1984, bacharelou-se em História pela PUC-SP em 1990, concluiu Pedagogia em 1993 e obteve, em 2002, mestrado em Comunicação pela UNIP.
Na literatura espírita, é autor das coleções O Evangelho do Dia e dos ensaios A Inteligência Espiritual e Você em Busca de Você Mesmo, além de colaborar em blogs e sites como Observador Espírita, O Relógio e a Bússola, Espírito nas Escolas e História do Espiritismo.
Além da docência e da produção literária, Dalmo também foi voluntário do CVV (Centro de Valorização da Vida), onde vivenciou na prática a escuta amorosa e o acolhimento como instrumentos de valorização da vida. Essa experiência marcou profundamente sua trajetória, refletindo-se em seus escritos e em sua forma de compreender o ser humano.



Como levar este tema para seus grupos

Abaixo estão materiais prontos e sugestões práticas para trabalhar a Valorização da Vida em preleções, evangelização infantojuvenil, mocidade e encontros de pais.

Materiais prontos (baixe e aplique)

Sugestões de temas para preleções

  • Vida em abundância — “Eu vim para que tenham vida…” (Jo 10:10): vida plena, responsabilidade espiritual e sentido.
  • Acolhimento do aflito — “Vinde a mim…” (Mt 11:28): consolo, alívio do jugo e esperança ativa.
  • O Bom Samaritano hoje — ética do cuidado e escuta sem julgamento.
  • Fé raciocinada e coragem — como a fé ilumina decisões e fortalece a autoestima.
  • Escuta fraterna — atitudes práticas para acolher com amor (CVV como inspiração de serviço).

Grupos de pais e responsáveis

  • Roda: “O que sustenta um lar acolhedor?” (bondade, rotina de afeto, pedido de desculpas, reconhecimento).
  • Comunicação não-violenta no lar: escutar sentimentos, nomear necessidades, combinar limites.
  • Tempo de qualidade: microgestos que transformam o dia (abraços, bilhetes, presença atenta).
  • Livro dos Pais vol. 1: Aula 9 – Compreensão, estímulo, amor (necessidades da criança)
  • Livro dos Pais vol. 2: Aula 7 – Harmonia no lar

Evangelização infantojuvenil e mocidade

Material para as atividades da Semana do Setembro Amarelo – Evangelização Infantil
Seguem sugestões de aulas do nosso material de apoio, que podem ser utilizadas para refletir sobre amizade, bondade, gentileza e significado de um lar:

  • Maternal: Aula 9 – A bondosa vaquinha (bondade)
  • Jardim A: Aula 6 – A meiga Catila (afabilidade / gentileza)
  • Jardim B: Aula 12 – As três borboletas (amor ao próximo / respeito às diferenças)
  • Jardim C: Aula 20 – Felix, a jaguatirica (amor aos animais)
  • Primário A: Aula 19 – Visita inesperada (amor ao próximo)
  • Primário B: Aula 24 – Desse jeito assim (preconceito)
  • Primário C: Aula 25 – A jarra de cristal (perdão)
  • Intermediário A: Aula 21 – O grande príncipe (amor ao próximo)
  • Intermediário B: Aula 36 – Um dia de menina (preconceito de gênero)

Todas as aulas são compostas de sugestões de atividades, de acordo com as faixas etárias:
• Maternal: 0 a 3 anos | Jardim: 4 a 6 anos | Primário: 7 a 9 anos | Intermediário: 10 e 11 anos

Em situação de crise emocional: procure ajuda médica/psicológica/espiritual. CVV 188 — ligação gratuita 24h, todos os dias. www.cvv.org.br

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