Dia do abraço combinado
Dia do abraço combinado
As crianças têm muito a nos ensinar, independente de nossas idades. Se observarmos seu comportamento, sua simplicidade, veremos o quanto notável são esses pequeninos seres de puro amor.
Os últimos acontecimentos durante as aulas do infantil estavam incomodando alguns pais, tudo por causa do aluno novo.
Hoje os portões da escola abriram mais cedo. A solução para esclarecer os ocorridos foi falar com todos os pais ao mesmo tempo. Professora Jane esperava pacientemente a chegada dos pais, era dia de reunião.
Davi era um garoto muito carinhoso, gostava dos animais, da natureza, de música e adorava abraçar as pessoas.
Entrava na sala de aula, abraçava a professora e corria para abraçar seus amigos. Uns saíam correndo, outros viravam as costas e riam. A professora Jane tentava explicar:
— Davi, sei que você gosta muito de seus amigos, mas precisamos respeitar se o amigo não quer abraço.
Davi não entendia o que a professora falava e ficava triste. Só queria cumprimentar os colegas. Tia Jane, como era carinhosamente chamada pelas crianças, comovida, se abaixava e falava:
— Vem cá, meu menino! A tia aceita seu abraço. E Davi, sorrindo, a apertava num grande abraço.
— Tia Jane, é tão gostoso abraço! Na minha casa todo mundo abraça, comentou Davi.
Enquanto os pais iam se acomodando nas cadeiras, Tia Jane recordou-se da época da pandemia de COVID, quando as pessoas não podiam se abraçar. Pensou que talvez as pessoas tenham se esquecido deste tipo de carinho. Ficou a imaginar se os pais ainda abraçavam seus filhos.
Observava que as crianças chegavam na sala de aula, sempre com o celular nas mãos. Muitos pais os deixavam ali, recolhiam os aparelhos e mal davam tchau aos filhos, correndo para seus afazeres.
O pai de Davi ficou chateado quando ouviu os comentários. Sabia que seu filho não queria deixar seus amigos desconfortáveis, apenas estava demonstrando carinho, como recebia em sua casa.
Mas nem todo mundo achava isso legal.
— Meu filho disse que o Davi quer abraçar todo mundo! — falou uma mãe.
Intermediando o diálogo entre os pais, a reunião transcorreu tranquilamente. No fim, os participantes souberam entender a situação. Ficou combinado com todos o início de um projeto intitulado: “Dia do abraço combinado” para trabalhar afeto, respeito mútuo, consentimento e as formas positivas e seguras de demonstrar carinho.
— Afinal, Davi não faz nada de errado e nos lembra que carinho é importante. Só precisa de ajuda pra entender quando e como oferecer um abraço, disse Jane — e nós, pais e responsáveis, podemos ensinar nossas crianças que carinho e respeito andam juntos.
Alguns pais saíram pensativos, outros envergonhados. Que descuido! Há quanto tempo não abraçavam o próprio filho? Naquela noite, muitos chegaram em casa e olharam para os filhos de um jeito diferente, como se de repente tivessem lembrado da fragilidade e inocência das crianças.
A partir daquele dia, os pais de Davi continuaram a lhe ensinar que algumas pessoas não gostam de abraços e tudo bem. Que ele pode mostrar carinho de outras formas, como um aceno ou um sorriso. Davi continuou a distribuir seus abraços àqueles que aceitavam.
Aguardando a chegada dos alunos na porta da sala, tia Jane notou nítida mudança no comportamento dos pais, a partir do simples gesto de uma criança que demonstrava seu amor através de abraços. Alguns chegavam dando as mãos aos filhos; outros se despediam com um abraço.
Uma lição a ser levada para a vida, ensinada por uma criança, num pequeno gesto de amor.
Silvia Maria dos Santos Amâncio Ribeiro
Centro Espírita Luz do Caminho – CELUCA
Regional Vale do Paraíba