O que nos falta?

O que nos falta?

Recentemente, numa atividade de aprimoramento de dirigentes / coordenadores de Evangelização Infantil, falei que um dos desafios do trabalho com crianças e suas famílias é conseguir voluntários em quantidade suficiente. E que esse “problema” não é da Evangelização Infantil, mas da casa espírita. Todos, no centro espírita, devem ser responsáveis pela captação de voluntários – diretoria, dirigentes de Escola de Aprendizes do Evangelho e demais voluntários das outras frentes de trabalho.

Esta minha observação causou certa apreensão. Uma das participantes verbalizou sua preocupação: como fazer para conseguir com que o centro se envolva na solução desse desafio que é encontrar voluntários? Pensando de modo mais abrangente: como fazer para que o centro espírita também se preocupe com a Evangelização Infantil?

Minhas experiências me ensinaram que “cobranças” não ajudam, pelo contrário, até atrapalham. A cobrança desperta sentimentos e atitudes defensivas que em nada resolvem.

No livro Curso de preparação para evangelizador da infância, no capítulo 2, podemos ler sobre o coordenador da Evangelização:

É importante que o coordenador/dirigente seja pessoa de bom e fácil relacionamento com a equipe diretiva da Casa para que possa ter a ajuda e o apoio necessários ao desenvolvimento das atividades da Evangelização Infantil, no que se refere a espaço físico, trabalhadores, recursos financeiros para a elaboração de material didático, agendar as festividades, distribuição de alimentação e roupas etc.

Eu acredito que essa relação entre o coordenador de EI e a diretoria precisa ter mão dupla. Não basta a pessoa que coordena a EI “correr atrás” da diretoria, implorando por ajuda. A diretoria precisa ter um olhar sensível para todas as frentes de trabalho.

Esse olhar sensível passa pela correta compreensão do livro Vivência do Espiritismo Religioso, cuja parte 2 apresenta Os programas e atividades de Evangelização. Sob este título amplo encontramos a Evangelização Infantil, Pré-mocidade Espírita, Mocidade Espírita, Curso básico de Espiritismo, Escola de Aprendizes do Evangelho, além de outras atividades. Ou seja, a Evangelização Infantil é o programa de Evangelização do ser que atende os Espíritos encarnados em sua primeira fase, de zero a 12 anos incompletos e seus familiares e/ou responsáveis.

É importante ler o Vivência e o livro do Curso? Sim, claro! Mas sabe o seria perfeito? A diretoria participar do curso de preparação! Estagiar na Evangelização, conhecer suas turmas, sua dinâmica, sentir as vibrações sutis deste trabalho tão delicado, tão importante… Ah! Mas eu tenho outros trabalhos, eu não levo jeito com crianças. Tudo bem, minha avó, que era analfabeta, dizia que saber não ocupa lugar. Faça o curso para conhecer, faça o estágio para sentir. Para se APROXIMAR!

Ainda citando a minha experiência, os dirigentes de Escola de Aprendizes do Evangelho que mais enviavam voluntários para a Evangelização tinham trabalhado ou ainda trabalhavam nela.

Outra coisa importante é perceber que há dois trabalhos diferentes que ocorrem um após o outro: a Evangelização Infantil e a Assistência Espiritual Infantil. Aqui se faz muita confusão! Principalmente porque, na maioria das vezes, são as mesmas pessoas que fazem os dois trabalhos, reforçando a escassez de voluntários e a sobrecarga de trabalho.

Para ser evangelizador precisa estar pelo menos no grau de servidor da Escola de Aprendizes do Evangelho. E ter feito o curso de preparação! O evangelizador prepara a aula com antecedência, passa a semana fazendo isso em seus horários livres (e às vezes nem tão livres assim…).

Para trabalhar na Assistência Espiritual Infantil precisa fazer o Curso de Médiuns.

Então, se são tarefas diferentes, com requisitos diferentes, porque não buscar as pessoas “certas” para cada trabalho?

É na infância a melhor fase para o Espírito aprender! Vamos à tão falada questão 383 de O Livro dos Espíritos:

383. Qual é, para o Espírito, a utilidade de passar pela infância? — Encarnando-se com o fim de se aperfeiçoar, o Espírito é mais acessível, durante esse tempo, às impressões que recebe e que podem ajudar o seu adiantamento, para o qual devem contribuir os que estão encarregados da sua educação*.

Poderíamos elencar outras questões, outras passagens da codificação. Mas esta diz tudo: o ESPÍRITO É MAIS ACESSÍVEL, DURANTE ESSE TEMPO, ÀS IMPRESSÕES QUE RECEBE E QUE PODEM AJUDAR O SEU ADIANTAMENTO.

O que nos falta para valorizar este trabalho? Incansavelmente buscar as pessoas disponíveis que farão a diferença na vida das crianças e suas famílias? Acolher, preparar as crianças não apenas para o amanhã, tão incerto, mas para o HOJE?

O que nos falta?

 

Maria Filomena C. Lopes

Equipe de apoio à Evangelização Infantil

 

Referências:

Vivência do Espiritismo Religioso / Conselho de Grupos Integrados – 1ª edição – São Paulo: Editora Aliança, 2014

Curso de Preparação para Evangelizador da Infância – 3ª edição revisada – São Paulo: Editora Aliança, 2021. Disponível em:

https://aliancalivraria.com.br/produto/102386/curso-de-prep-p-evang-da-infancia