Aos evangelizadores!
Aos evangelizadores!
Quando comecei a trabalhar como evangelizadora, por muitas vezes me sentia frustrada e incompetente. Passei meu primeiro ano de trabalho me sentindo assim. Não conseguia fazer com que as crianças prestassem atenção em mim, e muitas aulas passei quase o tempo todo chamando a atenção das crianças para pararem de brincar e prestarem mais atenção na “tia”. Fazia aulas elaboradas pensando em agradar, com bastante material e atividades, que não surtiam efeito.
Comecei o segundo ano desanimada, e preparar as atividades e ir à evangelização passou a ser um sofrimento enorme. Meus companheiros de trabalho perceberam que eu não estava feliz, e que estava indo quase que por obrigação. Tentavam me animar e motivar, mas sem sucesso.
Um dia uma evangelizadora mais experiente falou assim para mim: “- por que você não conversa com os pais das crianças? Pergunte o que os filhos falam da evangelização em casa.” Para a minha surpresa, os pais foram unânimes, as crianças adoravam a evangelização! Apesar disso, uma mãe veio me relatar que o filho dava um certo trabalho para ir (mesmo dizendo que gostava muito), pois achava parecido com a escola e não queria ir à escola aos sábados. Fiquei feliz com a resposta das mães, e isso me deu ânimo para continuar.
Chegando ao final do ano, a mesma evangelizadora mais experiente veio conversar comigo e falou assim: “- em vez de você planejar sozinha, por que você não pergunta para eles qual atividade eles querem fazer na última aula do ano?” Assim o fiz, e eles falaram que queriam brincar de “Show do Milhão” (aquele programa do Sílvio Santos, estava super em alta na época! Ops, acho que entreguei minha idade…).
Então criei o “Show do Deusão”; fiz cards com perguntas sobre os assuntos das aulas que tivemos ao longo do ano, chamei amigos do centro espírita para serem os “universitários”, e fiz um microfone do Sílvio Santos para usar no dia. Qual não foi o meu espanto quando eles começaram a responder e certar todas as perguntas, e ainda lembrarem do que aconteceu na aula daquele assunto! Terminei essa aula extremamente emocionada e grata por ter conseguido de alguma forma passar algum conhecimento do evangelho para eles.
Saímos de férias, e usei esse tempo para pensar em tudo que tinha acontecido nesse ano e no seu desfecho inesperadamente feliz. Lembrando o que aquela mãe tinha me dito, comecei a perceber que a evangelização não deve ser uma escola, com suas matérias, disciplina rígida e notas de prova. E que eu não precisava seguir à risca a aula planejada, dar todas as atividades pensadas e ainda fazer uma revisão no final. Entendi que, mais importante do que passar todo o conteúdo proposto sobre o tema do dia, era ouvir o que as crianças tinham a dizer.
E foi pensando assim que comecei meu terceiro ano como evangelizadora. Na primeira aula resolvi deixar as crianças falarem um pouco mais naquele momento inicial, onde elas contam como foi a semana delas. Ouvi o que todas tinham a dizer e usei suas falas para introduzir o assunto da aula. Na aula seguinte, as crianças quiseram fazer novamente o jogo que usei para introduzir o tema, e assim fizemos. Em outra aula, uma criança contou, chorando, que a avó havia desencarnado, então passamos a aula toda falando sobre o desencarne e a vida espiritual, deixando de lado a aula que havia preparado. Foi assim que percebi que precisamos preparar a aula como um roteiro, mas, assim como nossa vida, o roteiro às vezes precisa sofrer alterações em cima da hora, e está tudo bem!
Quando entendi que o mais importante era trazer para as crianças o conteúdo de forma leve e descontraída, de forma que elas façam parte da construção da aula, o trabalho deixou de ser pesado e passou a ser extremamente prazeroso. Aulas ou atividades não dadas podem ser reaproveitadas em outro momento, e as que as crianças gostaram, podem ser adaptadas para outros temas se elas pedirem para repetir. O importante é conhecer sua turma e o que funciona ou não para ela. Hoje sigo trabalhando com as crianças, e a evangelização passou a ser meu trabalho preferido na casa.
Ouçam mais as crianças, elas sempre irão surpreender vocês!
Adriana Gadioli Tarone
Evangelizadora do Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho – GEAE Barão Geraldo, da cidade de Campinas – SP.



