Evangelização! Para meu filho? Por quê?
Evangelização! Para meu filho? Por quê?
“Eu não vou obrigar meu filho a ir para a Evangelização Infantil. Quando ele crescer um pouco mais, escolhe se quer ou não ser evangelizado.”
Quantas vezes nós, evangelizadoras, ouvimos esta frase? Não é difícil ouvir em uma roda de conversa entre familiares, círculo de amigos e até de pais ou responsáveis por uma criança, que são evangelizadores ou voluntários da casa espírita.
Quando a Evangelização Infantil entrou na minha vida e na dos meus dois filhos, no ano 2004, eu não fazia ideia de como seria, nem o que era a Evangelização.
Na época, uma voluntária e evangelizadora pediu autorização para a implementação da Evangelização no centro localizado no bairro em que moramos. Fiquei sabendo do cadastro e inscrevi meus filhos. O mais velho tinha 11 anos e o do meio, 6 anos. No dia da apresentação, confesso que fiquei encantada. Acredito que meus filhos não tiveram a mesma impressão, talvez até se perguntassem “por que estou aqui?”. Nem eu mesma sabia ao certo e nem quanto tempo iria durar. A única certeza que eu tinha era de que meus filhos iriam participar das aulas. Conforme os levava às aulas, que aconteciam aos sábados pela manhã, mais eu me encantava.
Era o primeiro ano de Evangelização na casa e ainda não havia aula de pais. Como era visível minha curiosidade sobre o funcionamento da Evangelização, a evangelizadora que implantou me convidou para assistir aula na turma do meu filho mais velho. Ele fazia parte do Intermediário e, me lembro como se fosse hoje, a aula daquele sábado contava sobre Paulo de Tarso. A atividade de fixação era a dobradura de uma casa, fazendo referência à Casa do Caminho. A partir desse dia, passei a assistir às aulas todos os sábados. Percebia o trabalho lindo que era realizado por todos os evangelizadores, o carinho, dedicação e o compromisso com cada aula.
E assim meus filhos seguiram dentro da Evangelização. Confesso que não lhes dei chance de escolha, nem ao menos perguntei se queriam. Pegava na mão e levava. No início foram por obediência e, aos poucos, foram cativados, criaram laços de amizade e confiança com seus dirigentes e amigos da turma. Durante todos os anos de Evangelização, eu não marcava atividades que fossem no mesmo horário. Se quisessem brincar, jogar bola, empinar pipa ou qualquer outro evento, já sabiam que não poderia ser no horário da Evangelização. E assim não havia motivos ou justificativas para deixar de participar.
Eles concluíram todo o ciclo da Evangelização Infantil e Mocidade e participaram de encontros. Não tenho dúvidas sobre o quanto tudo isso acrescentou muito na vida deles, nas escolhas, condutas e valores. Costumo dizer que a Evangelização era a outra mão segurando-os, acrescentando, afirmando e fortalecendo os compromissos assumidos por eles e por nós, pais. O pai deles não participava, mas também não se opunha – pelo contrário, se eles estivessem dentro de casa no dia e horário de aula, perguntava por que não tinham ido.
Em 2009 nasceu o meu caçula, que participou desde o ventre. Atualmente está na Pré-mocidade. Sempre foi difícil leva-lo para as aulas da Evangelização. Assim que aprendeu a falar, passou a chorar, na sexta feira à noite, para não ir. Chegava de cara fechada, não permitia a ninguém que se aproximasse, reclamava de dores e coceiras. Mas, durante a aula, ia se acalmando, ficava super bem, falante e participativo. Isto se repetiu por muitos meses.
Às vezes observamos a necessidade dos filhos das outras pessoas, que precisam participar da Evangelização, apontamos diversas situações e necessidades para o responsável da criança, mas não enxergamos a necessidade de evangelizar nossos próprios filhos.
Em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XIV, item 9, temos a seguinte orientação:
‘’Desde o berço, a criança manifesta os instintos bons ou maus que traz de sua existência anterior, é a estuda-los que é preciso se aplicar, todos os males têm seu princípio no egoísmo e no orgulho, espreitai, pois os menores sinais que revelem os germes desses vícios, e empenhai-vos em combatê-los, sem esperar que lancem raízes profundas, fazei como o bom jardineiro, que arranca os maus brotos à medida que os vê despontar sobre a árvore. Se deixais se desenvolverem o egoísmo e o orgulho, não vos espanteis de ser mais tarde pagos pela ingratidão.”
Diariamente os pais se deparam com os instintos, bons ou maus, de seus filhos, como Allan Kardec nos mostrou no Evangelho. Nós, pais, precisamos estar preparados quando nos depararmos com esses instintos, precisamos estar atentos para não fortalecer o mal quando tentamos corrigir com comunicação violenta.
A psicologia Positiva afirma que a criança que é castigada constrói dentro de si: medo, baixa autoestima, dificuldade de se comunicar, problemas para acreditar em si mesma, vergonha, dúvidas, traumas, culpa. A partir de então se podem desenvolver transtornos, fobias, déficits e diferentes outros problemas mentais, iniciando-se até na fase da primeira infância (do nascimento até os seis anos), podendo acarretar para a vida adulta.
E então eu volto a perguntar: “Evangelização! Para meu filho? Por quê?”
Porque quando meu filho manifestar suas tendências, instintos bons ou maus, eu não vou estar sozinha, mas com amigos que vão me ajudar a mostrar o caminho, até que ele cresça e possa ser responsável por suas escolhas e descobertas. Hoje eu sou responsável por ele, e se em algum momento ele tropeçar ou desviar do caminho, saberá voltar sem precisar dizer “não voltei porque não me foi ensinado”. Quando ele crescer vai escolher o caminho que quer seguir.
Encerro com a frase:
“Seremos amanhã o fruto da semente que trouxermos em nosso coração. Para que esse fruto de fato se desenvolva, dependemos de uma família que regue com amor, carinho e disciplina os caminhos de nossa vida.’’¹
Elaine Cristina Ghidini Silva
Centro Espírita de Caridade Dr. Bezerra de Menezes – Parque Santa Amélia
Centro Espírita Francisco de Assis – Cidade Kemel
Regional SP Leste
¹ DÓRIA, Maria Nazareth, A Espiritualidade e os bebês, pelo espírito Irmã Maria, Lúmen Editorial.