Alberto e Anabela

Alberto e Anabela

Anabela era muito feliz. Vivia em um lugar muito bonito cheio de plantas, pássaros e flores. Tudo isso dentro do seu próprio quintal! A mãe dela, todos os dias, cuidava das plantas, em especial da alface, da couve, do tomate… E do pepino! Porque faziam parte do almoço e do jantar delas.

Perto da casa da Anabela existia uma outra casa, muito, muito, mas muito grande, mesmo! Era lá que morava um menino chamado Alberto. Ele não era feliz todo dia, só de vez em quando. O castelo, que era onde ele vivia, era tão grande que Alberto estava quase sempre sozinho. Suas refeições eram cheias de pratos diferentes, mas ele nem ligava. De verdade, ele nem via muito bem o que comia.

O que Alberto gostava mesmo era quando ele saía e andava perto do castelo. Foi num dia assim, enquanto ele caminhava e olhava tudo ao redor, que viu uma menina, de cabelo comprido e vestido marrom, carregando embaixo do braço uma pata que usava um chapeuzinho. No mesmo instante em que a viu, a menina também o notou ali, meio perto, meio longe, olhando fixamente para ela.

Ele tinha o cabelo vermelho, certamente teria lindas pintinhas no rosto, porque todo mundo que tem cabelo vermelho tem lindas pintinhas no rosto, pensou Anabela. Mas, o que realmente a deixou muito curiosa foi o olhar do menino. Parecia triste e foi por isso que Anabela apertou Gertrudes nos braços, correu em direção ao menino e disse:

– Olá! Eu sou Anabela, esta é a Gertrudes, uma linda princesa, você não acha? E você, quem é? Nunca te vi aqui! Onde você mora? Você está com fome? Tome, tenho estes pepinos…

Alberto se assustou e quase saiu correndo por causa de tanta pergunta. Ele continuava mudo, sem saber o que responder, com o olhar espantado e fixo em Anabela, até que ela lhe tocou o nariz e falou:

– Eiiiiii! Você está dormindo ou o quê?

Alberto, então, sorriu e aquele sorriso se transformou primeiro em uma risada e por fim em uma grande gargalhada. Ele nunca havia visto nada parecido com aquela menina, que apertava a pobre pata de chapéu, embaixo dos braços. Ela não parava de fazer perguntas ou de falar. Nem tinha medo dele, o que seria o normal, porque afinal, ele era Alberto de Ananás, filho único do rei mais poderoso de toda aquela região.

Então, respirando muito profundamente, ele parou de rir, sob o olhar espantado de Anabela e do bico aberto de Gertrudes, e disse:

– Meu nome é Alberto, eu vivo aqui perto e, sabe? Eu acho que nunca vi pepinos tão verdes, antes.

E assim começou uma grande e verdadeira amizade entre Alberto e Anabela. Todos os dias, Alberto deixava o castelo para ir brincar com Anabela e Gertrudes.

Um dia, Anabela não apareceu. Alberto ficou preocupado, mas pensou: – Amanhã ela vem. E  “amanhã”, e depois, e depois, e depois, nada de Anabela.

O príncipe ficou muito triste e pensou: – Ela não quer ser mais minha amiga. Fechou-se no quarto e chorou muito. Sua tristeza era tanta que todos no palácio começaram a perceber o olhar caído do pobre menino príncipe.

Até que um dia, o pai de Alberto, o rei Antônio de Ananás chamou o filho na sala do trono e disse, abraçando-o amorosamente:

– O que está acontecendo, Alberto? Você ultimamente andava tão feliz e agora, assim, com esse olhar, essas lágrimas penduradas nos seus olhos…

Beijando a cabeça do príncipe, o rei o abraçou mais fortemente. Nesse momento Alberto sentiu em seu coração muito amor pelo pai e muita tristeza pela ausência de sua amiga Anabela. Então, não suportando mais todos esses sentimentos, começou a chorar. O rei se assustou:

– O que foi, meu filho? O que foi???

Alberto então contou tudo ao pai-rei, desde quando se sentia sozinho até quando descobriu a felicidade de ter uma amiga que lhe ensinava tanto. Até a comer os pepinos mais saborosos do mundo!

O rei, que era um homem sábio e justo, se entristeceu por nunca haver percebido a solidão de seu filho.

– Meu querido Alberto! Por que você nunca me disse que se sentia assim?

E o menino lhe respondeu:

– Não sei, não queria incomodar, achei que o senhor não iria entender ou até riria de mim!

O rei olhou longamente dentro dos olhos de Alberto e disse:

– Meu filho, eu te amo, tudo o que vem de você é muito importante para mim. Eu jamais riria da sua dor.

Abraçaram-se demoradamente até que Alberto disse ao rei:

– Pai, você me ajuda a descobrir o que aconteceu com Anabela?

O rei lhe deu o sorriso mais real que um rei poderia dar e disse:

– É para já, meu filho, é para já. Vamos juntos descobrir onde está essa menina tão especial!

Saíram do castelo juntos, um regimento de soldados, o Rei e Alberto, todos a cavalo, em busca de uma menina que andava carregando em baixo do braço uma pata que usava chapéu.

Passou um tempo, não se sabe se tempinho ou tempão, o rei e Alberto avistaram uma casinha, muito, muito, mas muito pequena, totalmente rodeada de flores, pássaros e plantas. Ao se aproximar, o menino viu vários pés de pepinos, como aqueles que Anabela sempre lhe levava. Chegando mais perto, ele pôde avistar uma pata usando um chapeuzinho. ERA GERTRUDES!!! Ele havia finalmente encontrado a casa de sua amiga. Mas será que ela ainda queria ser sua amiga? Ele sentiu medo, quis voltar para trás. – E se ela não gostasse de vê-lo ali? Tão perdido em seus pensamentos que nem notou que seu pai desceu do cavalo real e dirigiu-se até a porta da casa.

– Ó, de casa! – gritou o rei. Então a velha porta de madeira se abriu com um rangido. Apareceu uma menina muito pálida e de olhar muito assustado.

– Olá! – disse o rei.

– Olá. – respondeu a menina, sem entender nada.

– ANABELA!!! – gritou Alberto, correndo ao seu encontro.

– Meu amigo!!! – respondeu a menina, abraçando-o também.

Anabela não entendeu o que Alberto estava fazendo ao lado do rei, bem ali, na frente da sua porta. Quando ela ia começar a fazer perguntas, ouviu-se uma voz fraca de dentro da casa, chamando pelo nome da menina:

– Anabela, água!

A menina entrou correndo, e atrás dela, o rei e o príncipe.

Era a mãe de Anabela, que estava muito doente. Não havia mais ninguém para cuidar dela ou da casa, por isso deixou de encontrar-se com Alberto, explicou a menina.

O rei chamou seus guardas e ordenou que trouxessem Dr. Aristeu, o médico do palácio, imediatamente. Enquanto os soldados foram buscar o médico, o rei sentou-se ao lado da cama da mãe de Anabela. O príncipe se aproximou:

– Pai, o que você está fazendo?

O rei sorriu e disse:

– Venha, meu filho, sente-se ao meu lado. Você também, Anabela. Vamos rezar. Vamos pedir a Deus, que é o nosso Pai e a Jesus que é o médico de todos que ouçam nossa oração e ajudem a mãe de Anabela.

Pediram a Jesus que enviasse luzes de amor e proteção àquele lar e que os bons espíritos, junto com o anjo de guarda da mãe de Anabela, pudessem ajudar a curá-la. Quando acabaram de rezar sentiram uma paz profunda.

– Obrigada, senhor rei. – disse a menina, emocionada, abraçando o rei e Alberto. – Nós não temos como pagar toda esta ajuda que estamos recebendo, mas, se o senhor aceitar, temos os pepinos mais verdes e saborosos do mundo.

O rei deu uma risada e aceitou os pepinos de muito bom grado.

Depois desse dia, a mãe de Anabela ficou muito melhor. O Dr. Aristeu, dedicado médico do palácio, a visitava constantemente.

Alberto e seu pai passaram a fazer suas refeições juntos e conversavam sobre tudo.

Anabela e Alberto voltaram a se encontrar diariamente para brincarem.

Gertrudes recebeu do palácio uma enorme coleção de novos chapeuzinhos.

Ahh! E o rei, muito feliz, passou a comer todos os dias os pepinos mais verdes e saborosos do mundo.

Claudia Gunst

Parkland, Flórida / EUA

Ouça a história narrada pela autora: