Como dar a outra face nos dias atuais?

Como dar a outra face nos dias atuais?

 

Em Mateus, V: 38-42, lemos a seguinte passagem: “…mas se alguém vos bater na face direita, apresentai-lhe também a outra…”.  Jesus nos ensina a dar a outra face, mas como ensinar isso às crianças sem que elas sofram? Digo isso porque me espantei com o grande número de relatos sobre bullying sofrido pelas crianças com quem convivo.

Por estarmos mais próximos das crianças nessa pandemia, as conversas são mais soltas e algumas se abrem, fazendo relatos tristes e preocupantes. Ouvindo um desses relatos pensei: como falar para essas crianças que elas precisam dar a outra face?

Fazendo uma busca na internet, encontrei um texto de Joanna de Ângelis¹ que diz:

“Oferecer a outra face é mais do que expor o lado contrário, a fim de sofrer nova investida da perversidade. Trata-se da face moral, nobre, que se encontra oculta, aquela rica de sentimentos elevados que distingue uma de outra criatura”.

Ainda complexo para explicar à uma criança…. Então fui ao Evangelho Segundo o Espiritismo e vi que, no capítulo XII, Kardec reflete sobre a passagem de Mateus nos escrevendo que Jesus não proibiu a defesa, mas condenou a vingança. Aí me deparei com outra pergunta: mas como distinguir para uma criança a defesa da vingança?

Foi aí que pensei: por que as crianças cometem o bullying? Primeiro pensei que era o diferente que provocava essa reação nas crianças. Tudo o que fosse diferente delas seria de algum modo afastado, neste caso promovendo o bullying. Mas, se fosse assim, as crianças não fariam amizades entre si tão fácil e rapidamente quando estão num mesmo espaço e sem adultos por perto.

Tentando pensar com minha cabeça de hoje de quem busca fazer a reforma íntima, vejo que as crianças têm medo/não gostam/não aceitam tudo o que é diferente do “normal” para elas. Percebo que a construção desse normal é que pode ter ocorrido (ou ainda estar ocorrendo) de algum jeito equivocado em suas cabecinhas. Se a sociedades, principalmente o círculo próximo à criança, impõe alguns “normais”, as crianças os acatam como verdade.

Penso que as crianças são como uma tela em branco, onde predomina a pureza de pensamentos e sentimentos, esperando que nós adultos as preenchamos com nossas tintas de amor, conhecimento, educação, fé, respeito… Se, ao invés de utilizarmos essas tintas boas para preenchê-las com ensinamentos sobre igualdade e fraternidade, utilizarmos as tintas erradas para impor padrões de raça, estética, condição social, etc… elas tomarão isso como o “normal” e rechaçarão o resto, descriminando quem for diferente disso.

Pensando como a criança que fui, que sofreu bullying por ser gordinha e baixinha, o que me faria (naquela época) não bater nessas crianças que me discriminavam como meio de impor respeito (medo, na verdade)? A minha vingança contra elas era a violência, mas e se eu tivesse (se me tivesse sido ensinado?) outra forma de me defender?

Voltando a pergunta inicial, chego à conclusão de que, como evangelizadores que somos, temos o dever de ensinar as nossas crianças que não se devolve violência com violência. Precisamos mostrar a elas que nem todas as crianças entenderam ainda que não importa se somos gordinhos ou baixinhos, usamos óculos ou aparelhos nos dentes, ou temos a cor da pele diferente, porque, no final, somos todos iguais. Precisamos orientá-las a ter empatia por essas crianças e despertar dentro delas a vontade de ensiná-las sobre a igualdade e a fraternidade, tão natural para elas quando ainda não as sujamos com nossas tintas feias!

Essa deve ser a defesa delas, a sementinha do Evangelho que plantamos em seus corações deve ser o “dar a outra face”. E, pensando assim, agora a frase da Joanna de Ângelis faz mais sentido…

 

Adriana Tarone

Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho – Barão Geraldo

Regional Campinas

 

¹A outra face – Joanna de Ângelis. Psicografia do médium Divaldo P. Franco, na reunião mediúnica do Centro Espírita Caminho da Redenção, na noite de 15 de abril de 2009, em Salvador, Bahia.

Disponível em: https://www.centronocaminhodaluz.com.br/index.php/artigo458/

 

 

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