O superpoder de Rebeca

O superpoder de Rebeca

Psiu! Cheguei!

Sou a Rebeca, me chame de Beca, se quiser. Só não pode me chamar de Bequinha, aff! Não gosto, parece aquela roupa preta de formatura que minha tia usou. Gosto de coisas coloridas.

Vocês têm poder? Gostariam de ter? Eu tenho e quero contar como descobri. Bem que minha mãe diz:

– Filha, cuidado com o que você fala! As palavras têm poder!

Só porque um dia meu irmão, Pedro, não repartiu o doce de abóbora comigo e falei que ia dar dor de barriga nele. Custava me dar só um pouquinho? Depois fiquei com medo e rezei para que ele ficasse bem.

Vocês já tiveram dor de barriga? É muito ruim sentir dor.

Então tive uma ideia… Fiquei pensando… Se as palavras têm poder, quero ser invisível! Já pensou? Poderia fazer o que quisesse que ninguém ia me ver mesmo, rsrsrs.

Fiquei falando dois dias assim:

– Sou invisível, sou invisível… Ninguém vai me ver.

Até que um dia estava brincando no chão da sala com minha boneca preferida, a Valéria. Esse é o nome dela. Adoro muito a minha boneca, sempre conto a ela meus segredos e até contei que queria ser invisível.

Pouco depois chegou minha mãe, Lulu, e entrou na sala com o meu pai. Os dois estavam conversando, falavam tantas coisas, nem me viram no tapete. Não é que minha mãe tinha razão?

Nossa! É isso! Funcionou meu superpoder! Estou invisível! Não estão me vendo aqui. Fiquei tão feliz!

Só escutei minha mãe falando:

– Verdade, Ditinho, a Beca não tem vergonha mesmo.

Fiquei espantada e pensei: – Como assim, não tenho vergonha? E quando a professora Dona Vera manda ler a história? Fico com tanta vergonha!

Outro dia até tirei meu livro da mochila. Achei que se eu não estivesse com o livro não precisaria ler. Quando chegou a minha vez, disse que tinha esquecido o livro, mas a professora falou:

– Theo, empreste seu livro para ela ler.

Que coisa! Contei pra minha mãe sobre o livro. Ela explicou que a mentira deixa as pessoas tristes e que depois ninguém vai confiar em mim, que a mentira tem perna curta. Que por isso é melhor dizer a verdade e que era só eu falar para professora que estava com vergonha. Só fiquei imaginando as perninhas da mentira…

Mas agora, aqui na sala, o que minha mãe estava dizendo era:

– A Beca não tem vergonha de dançar!

Ah! Agora entendi! Como eu estava invisível, sentei no sofá, no meio de meus pais, e comecei a balançar minhas pernas para ouvir a conversa. Quando meu pai falou alto:

– Rebeca, o que está fazendo?

Nossa, que susto! Meu coração pulou! Como ele me viu?

– O senhor está me vendo, pai? Perguntei bem baixinho.

– Claro que sim, menina, você está batendo as pernas no sofá! Vá brincar no tapete, estamos conversando e não fique ouvindo nossa conversa.

Que triste! Não tenho poder! Peguei minha boneca e fui para o quarto. Como eles não me viram no tapete? Agora acho que já escutei tudo, tenho duas orelhas…

À noite minha mãe foi me dar boa noite. Quis saber por que eu estava tão quietinha, lá na sala. Contei para ela que tinha escutado a conversa deles. Que não queria mais falar mentira, nem deixar ela triste e que não tinha o poder de ficar invisível. Minha mãe falou:

– Sinto muito, filha. Como você estava brincando, pensei que não ia ouvir a conversa. Está tudo bem, você não fez nada demais. Da próxima vez, quando eu for conversar, aviso você ou chamo seu pai na cozinha. Vou te contar um segredo sobre os seus superpoderes. – E cochichou na minha orelha.

– Agora vem cá e me dê um beijo de boa noite, querida.

Pulei no pescoço de minha mãe e dei um grande abraço. Puxa, que felicidade!

Querem saber sobre meus poderes? Foram dados por Deus.

Rezei e agradeci a Deus pelos poderes de ouvir, de falar, de abraçar e de aprender com minha família.

Silvia Maria dos Santos Amancio Ribeiro

C.E. Luz do Caminho – CELUCA

Regional Vale do Paraíba